“Por onde começo?” É a evasiva da maioria. Falar de si não é difícil, mas é chato pra caralho! Adoro uma das milhares tiradas do Ricardim Ramos (do Porcas Borboletas): “Quem sou eu: pra falar de mim.” Vou pelas metades então. Sou fotógrafo e designer profissional, vivo de cobrar caro por umas poucas linhas, umas duas ou três cores, uns cliques. Não me arrependo, adoro. Também escritor, mas costumo negar. E músico, mas prefiro falar que sou escritor. E ando me enveredando pelos lados do cinema, em passos lentos, que é pra ter certeza de que to aprendendo.
Aprendi uma ou outra coisa com quem eu considero mestre: frases curtas e ironia seca com Bukovski e Chuck Palahniuck; as frases longas e o assunto se desfiando em várias direções foi com Kerouac. A condensar a filosofia em coisas cotidianas, vendo acontecer o que antes era palavrório, fui ensinado pelo Machado de Assis, Kundera e Dostoievski (que me ensinou também que o mundo bate, e às vezes sem dó). Tarantino, Guy Ritch, Warren Elis e Frank Zappa me mostraram que harmonia e linearidade são supervalorizadas e que saber mexer aqui e ali nessa engrenagem pode fazer a coisa ficar divertida pra caralho! Wood Allen, Almodóvar e Pink Floyd, pouca gente ia concordar comigo na relação entre esses três, mas me mostraram o ser humano por baixo dos panos emocionais. Itamar Assumpção e Fernando Pessoa, a genialidade e o valor de cada sílaba – assim como Alan Moore foi quem me atentou pro sentido mágico da linguagem. Saramago, o maior dos mestres pra mim, me ensinou, entre muitas coisas, o que é dar o devido valor à uma língua e a ir até as últimas conseqüências ao imaginar as coisas acontecendo. Que é um pouco também do que aprendo com Monty Python: que absurdo e cara de pau são ótimos pra atirar uma crítica certeira. Hermeto Pascoal, outro que reverencio em cada respiração, pausa ou compasso, me falou sobre a intuição e o momento, o improviso enfim. Burroughs, Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca me jogaram na cara as perversões, das pequenas (que fazem cócegas e te fazem ver que você não tá sozinho nessa), até as maiores, que qualquer um demora um tempo pra digerir – mas que estão aí, negar é pior. E outro que tenho como grande é o Luís Fernando Veríssimo, que me ensinou a dar leveza e fluência a qualquer coisa.
Tem outros e outras, claro, mas essas duas dúzias, pouco além pouco aquém, me talharam a ferro frio. “Ferro quente, mane!”. Não, ferro frio mesmo: cinzel, lima e estilete. Um dá forma, o outro apara as rebarbas; o terceiro é pros detalhes. No mais, é a vida me dando tapa – na cara ou nas costas – que tem me ensinado.
Aí eu cito esse tanto de nome, como homenagem sincera; mas você pode acabar pensando: “Aff, mais um metido a cult”. Nem tanto, senão nada – mas não nego a prepotência, o sarcasmo e a arrogância. Eu também poderia te dizer pra enfiar qualquer rótulo no rabo, mas é seu direito. Só acho que é um atalho pra acabar falando besteira.
Enfim, falei dos meus mestres, falei de um hipotético leitor, fiz firulas com as palavras, mas quase nada sobre mim. Enrolei mesmo, desviei pra lá e pra cá, um pouco se deduz, outro tanto se inventa, pra mim tá ótimo assim. E o texto ficou passável, é o que importa afinal.
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