Foi ali, naquele lugar, que parou o cavalo e o colocou a beber do cocho. Era a primeira vez que chegava nessas terras. Nem seca e desolada, nem farta e fresca. Só um bom lugar. Numa placa meio desbotada, pendendo na trave da entrada, ele leu: São Poente.
E, logo à frente, um homem sentado em um bloco de concreto, um cacho de frutas na mão. Esses sim, os opostos que antes não se via: ele, seco e desolado; as frutas, fartas e frescas.
E, então, o forasteiro se aproxima.
- O que há com você, homem?
- Não tenho felicidade.
- O que é normal.
- A mim, tem pesado mais.
O estranho enfia a mão no alforje e tira de lá uma bolinha.
- Aqui. Eu tenho felicidade.
E entrega de presente ao infeliz.
Ele olha aquilo em suas mãos. Meio opaca, meio pequena demais. Mas é felicidade.
- Não posso aceitar. O que fará sem ela?
- A minha felicidade, eu carrego em mim.
O homem do concreto pensa por um instante. Reflete sobre aquilo. Em um golpe, crava o punhal no peito do viajante. Mata-lhe de imediato. Abre-lhe o corpo, do pescoço ao ventre, e põe-se a procurar. Seus dedos tocam os órgãos ainda quentes e molhados. Sente quando o coração dele pára completamente de bater. E retira de lá uma bolinha, meio opaca, meio pequena demais.
Guarda no bolso as duas, a que ganhou e a que tomou, e vai embora. Agora, que ele tinha, triste seria ter menos.
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Creditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor
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