Xico Sá, um dos poucos que eu admito que fala por mim (os
outros são o Lenine e o Vinícius de Moraes), cantou essa pedra a tempos: “Something
is technically wrong”. Que, traduzindo em língua mineira, o trem tá com
inguiço.
É esse mar de merda em ondas contínuas, cada uma trazendo a
merdice do momento. Quiz pra decidir que música dos Menudos você é. Conselhos
de Odette Roitman. Opa, aquela gatinha respondeu uma pergunta sobre você. Rafinha
Bastos com 1 milhão de seguidores em poucos dias, e Buda ta aí, ralando faz
2500 anos. Entra e sai ano, vem o BBB e o Mar Morto se divide: a banda de
lá diz “oba” e a de cá diz “eca”. Mas ninguém atravessa. Ultimamente, enxurrada
de fotos clichês com alguma frase cretina. Em duas semanas, esse post vai estar
desatualizado em patifarias virtuais.
Venho de uma cidade que é famosa por seus espaços públicos,
seus festivais de butecos e pelos happy hours. BH dos meus tempos era assim.
Você é amigo de fulano que é amigo de sicrano, então automaticamente vocês são
amigos. Praças públicas de dimensões consideráveis e bem freqüentadas. Sexta
feira tinha seu ar de sagrado. Sábado de manhã tem Mercado Central com bife de
fígado acebolado e cachaça de Salinas. Ainda moleque, perdi as contas de
quantas vezes fui dormir no carro, já madrugada e cansado como criança cansa,
com a cara cheia de MateCouro (um guaraná esquisitaço que tem gosto da minha
infância) enquanto meus pais continuavam na digna e beatífica tarefa da boemia,
logo ali na mesa do lado. Mas, hoje em dia, anda-se pela Savassi, Santa Teresa,
Maletta ou qualquer outra viela historicamente boêmia (que vai da Lapa ao Pelourinho) e
nego ta ali na mesa lotada, com celular armado e mandando ver um “Tomando
Heinekein com a Gi, a Janaína e a Carol”. As três, diga-se de passagem, podem
ser resumidas em vinte caracteres: gostosas pra caralho. Resumidas, que se for
descrever, não cabem nunca em 140 – um dia escrevo um livro inteiro sobre elas.
E, talvez, eu vá ficando velho e de saco cheio dessas coisas
todas, a internet pra mim se resumindo a poder ler os bons cronistas que eu já
lia enquanto livros e a baixar filmes, antes que as autoridades dêem novo
chilique e desliguem essa tomada. O YouTube já fubazou completamente, é aquela
lambança sem sentido de vlogs, partobas, webcelebridades e capítulos de novela.
O Vímeo, por outro lado, ainda é coisa boa, quem não conhece vá e vá de novo.
Mas há a ironia que não nego: meu Facebook é coisa meio
lotada, e nem eu sei entender o motivo: só uso pra escrever borracha. Já andei
excluindo uma galera, mas depois fico com preguiça. Talvez você me ajude nisso
e me exclua, se te desagrado ao menos um pouco. Tenho pensado sempre em apagar
de vez aquilo, ficar só com esse blog meio mal freqüentado mas de boa índole,
só hesito por conta disso mesmo: me traz leitores que valem a pena. De resto,
não mantenho mais outras redes e não tenho a menor paciência pra MSN e afins,
que conversa tem que ser cara a cara mesmo. Com gesto, tom de voz e até algum
perdigoto.
Algum tempo atrás, o Renato Cabral, mano de responsa por
quem ponho a mão no fogo pelos escritos e pelos filmes que evoca em sessões de
macumba pra esse mundo, disse andar triste pelo próprio vício em redes. Coisa que
entristece mesmo, tomara que se cure antes de contrair uma gota nas juntas.
100, 200, sei lá, 500 milhões de usuários dessa bagaça. Tem
menos gente fumando crack do que usando redes sociais. Inclusive, fazem aquele
auê na cracolândia, mas Facebook só aperfeiçoa e ninguém acha absurdo.
Adicionar a linha de tempo é entortar o cachimbo pra mais uma dose.
Não vou falar das nossas línguas vivas, algumas em coma, por
culpa dessa merda de democracia virtual. Abreviar coisa ou outra pra ganhar
tempo na digitação e economizar na LER ainda passa, mas escrever errado é
sintoma de doença. Pra quem interessar, o português vai ser velado nessa
próxima segunda, no Paz & Terra, das 8 às 18.
Seria bom algum bug misterioso ou vudu dos brabos torcer
logo o pescoço dessa galinha – e fodam-se os ovos de ouro – e essa ciranda
acabar. Aí, tem grandes chances do buteco e da rodinha de café, essas antigas
redes sociais sem limites de caracteres (porque falar “farofa” com a boca cheia
de farofa ou recitar Fernando Pessoa bêbado extrapolam qualquer caixa de texto)
e onde as vídeocassetadas são ao vivo, voltarem a funcionar.
Ps: o título clichê é preguiça mesmo do assunto.
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Creditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor
1 comentários:
O mundo anda cada dia mais burro e mais solitário, tudo virtual e abreviado, prefiro o mundo real mesmo feio, as vezes ordinário e caótico, mas real, sem ilusões, o cara a cara, o abraço apertado, o olhar que não engana. o que ainda vale a pena são blogs como o seu que nos contempla com um pouco de inteligência e humor no meio de tanta bobagem vitual.
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