Voyeur #5


O primeiro efeito de uma mulher é fazer agoniar o juízo. É nessa hora que a gente quer entender a todo custo o paradigma estético, seja com tese ou poema. E porque a imaginação é tão cara pra nós? Só pra provar que estamos vivos? Não é também pra fazer mais tranqüila a volta à bagaceira cotidiana, digo, às obrigações, esse murchar do romantismo e a aceitação menos lírica da realidade besta? Não é por isso que buscamos o gozo, a pequena morte, esse carnaval particular no peito? Talvez por isso esse reincidir em situações em que nos despenquem lembranças do trapézio da memória, seja no sutil das observações ou através de papéis e pastilhas psicodélicas, ou qualquer outro paraíso artificial.

E aí a gente acha sorrisos, covinhas, rebolados, um segundo ou mais de absoluta beleza, as retinas se fechando em close e terminamos decidindo, por fim, que aquilo, que aquela, que todas elas, são indecifráveis, como já concluiu uns milhões de outros de nós em todos os passados.

De tanto essa beleza sensorial (que nos atinge e não sem motivos também nossos) empurrar nossa razão pro vão das questões sem resposta, como a dos ovnis, do pós-morte ou da realização pura, acabamos preferindo as superfícies bem fundamentadas ao obscurantismo das teses ditas profundas. A mulher bonita é o Triângulo das Bermudas das boas explicações racionais.

E, na falta do conhecimento mecânico pra consertar a Ferrari que se pensa existir em nossas cabeças, acabamos pegando carona nesse bonde chamado desejo.

Ora, não nascemos ontem e nem de sete meses. Mas temos a maior cara.

A questão talvez seja: por que você presta atenção nela? O que seu instinto busca? O que sua consciência busca, validando ou rejeitando esse instinto?

A vida tem um quê de Titanic: a gente sai achando que a rota é marcada e é segura, e termina em outro lugar.

E Freud ainda perguntaria: e a mãe, vai bem? Não com a ironia de um caminhoneiro, mas com o interesse do pesquisador. Porque foi ela quem primeiro lhe fez essa confusão dos sentidos, e lhe deu a saudade do passado; e esse foi o motivo de seu primeiro choro.

Pra entender melhor o COMO dessas coisas, é preciso entender também quais são suas buscas.

Por isso eu prefiro terreiro: faz mais sentido acreditar nos deuses que dançam.
 
Admirar um sorriso mais invocado do que o sorriso do gato de Alice nos deixa mais na fissura ainda. Melhor mesmo apreciar, em uma cadeira de um bar de esquina, esse lindo mistério do duplo X, que os galegos mentirosos crêem ser crias das nossas costelas.
 
A realidade, cangaceiro, no fim, é só mais uma opinião.


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Creditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor

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