Voyeur #2


- Perdida em si mesma, caminha rápido, sem observar o caminho já traçado. Leve movimento dos lábios, conversa sozinha: dialética interna ou monólogo de autoafirmação. Come rapidamente, o olhar
constantemente perdido em seu interior. Como chegou, partiu.

- Magra, delicada, aquelas singelas feições de francesa. O cabelo de um loiro escuro, os gestos concentrados e muito femininos, mesmo com os cabelos presos num coque discreto e sóbrio. Tem a seriedade de quem está cumprindo o compromisso de estudar, e o faz com a devida concentração. Pode ser que seja uma chatinha, enjoada com algumas coisas, alguns hábitos mimados. Mas deve ser uma delícia de ser domada ao ponto de só existir o carinho e uma implicância por autodefesa - desarmada. Um vestido também sóbrio, preto. Move os lábios enquanto escreve num caderno brochura, desses bem simples, a mesa pura bagunça com todos os materiais de estudo espalhados. Em cima dos papéis, uma calculadora, que condiz perfeitamente com seu jeito concentrado. Mais um motivo pra se desejar seu outro lado, sua sensibilidade. Acho que ainda não experimentou orgasmos constantes e loucos, talvez suas experiências sejam mais caretas, certeza que ainda tem um certo receio e nojo de algumas coisas. Apesar da postura, seu corpo comunica tudo isso, e parte da minha sensibilidade fica desperta pra perceber. Especulação, mas parece bem claro pra mim. Tem os lábios finos, a pele clara. O pescoço é lindo, imagino o que seria explora-lo com todos os tipos de toques: sopros, roçar leve da barba, ponta do nariz, aspirar seu cheiro, passar os lábios e às vezes a ponta da língua, dar um beijo suave e demorado, com as mãos acariciando firme sua nuca, dedos deslizando em seus cabelos. Usa uma correntinha no pescoço com um pingente no formato de uma palavra que não consigo ler. Os pés são bonitos e bem cuidados.

- Chegam juntos, mas sem dar as mãos. Sentam em um banco. Após um tempo, algumas palavras. Demonstram suas carícias; ele deita no colo dela, ela se apóia nele. A dedicação feminina ao afeto é maior. O que antes podia indicar um relacionamento que já se tornou rotineiro, agora demonstra que o envolvimento é recente. Ainda existem barreiras e pudores, a intimidade vem lenta.

- Ri um riso sarcástico, assume uma expressão séria, aspira um trago do cigarro. Certa prepotência e arrogância.

- Por vezes me pergunto se eu teria conseguido decifrar uma alma, a loucura, ser justo e salvar Joana D’Arc da fogueira.


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Créditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor

comment 2 comentários:

magrela disse...

!!!!!!

Thiago disse...

Hahahahahaha!!

Não é tu não, Magris. Mas se fosse, também não falaria! 8p

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