Contos da Doce Esquina

Se a profissão é a mais antiga do mundo, haja história pra contar...

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- E tu, vai ficar aí sem provar nada?

- Bom, um filé como você não sai barato, e meu bolso ta um pouco leve no momento.

- Ih... veio perder tempo então?

- Vim só pra admirar.

- Sei. E tu tá achando que aqui é desfile ou vitrine?

- Ah, quem sabe o que pode acontecer, hã?

- Eu sei. Nadica de nada.

- Podemos fechar um acordo...

- Hum...

- Pode ser uma troca de prazer. Eu sei uns truques, posso apostar que você vai gostar.

- Hum...

- Até aí, é de graça. Mas, se gostar mesmo e quiser de novo, vai ter que me convencer...

- Hum...

- É isso. E eu não sou até se jogar fora.

- Não é não. Posso te fazer uma pergunta?

- Pode.

- Você gosta de usar esses papos pra conseguir seduzir qualquer mulher?

- Aham.

- Mas veio justamente num puteiro pra tentar isso?

- ...

- Tchau, querido.

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Culpa, aquele sentimento que pisa no freio quando o sangue ferve por um pecado. Transforma glória em desprezo. Ao seu modo, o amor tem seu lado carcereiro. Então, ele se encolhe como criança assustada enquanto tira a roupa. E tenta não mais lembrar da esposa que o espera em casa.

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- Senta aí, eu tenho que te contar uma história...

- Pronto. Respira com calma. Pode dizer.

- A muito tempo, antes de eu conhecer sua mãe, eu me encontrei com outra mulher. Por uma noite. Era uma prostituta.

- Pai...

- Eu era muito inocente naquela época. Jovem. Não sabia que ela era isso. Eu andava pela rua, tarde da noite. E ela me encontrou. Era linda, muito linda.

- Eu acho que você não devia...

- Por que? Por que estou nessa cama de hospital? Por que o médico diz que eu talvez não saia daqui? Me escuta, só isso.

- Tá.

- Eu fiquei assustado, e apaixonado na mesma hora. Ela percebeu. Foi sutil, Foi carinhosa. Me deu a mão e me levou. Um quartinho de hotel que ela fez parecer, pra mim, como um palácio. Abriu uma caixinha e me ofereceu um pouco do que tinha lá. Era cocaína.

- ???

- Eu nunca tinha visto. Naquela época, se vendia em farmácia. “Calma, eu tomo sempre. Vai se sentir bem”. Eu não sabia o que faria, mas tudo o que ela mandava eu obedecia. Era quase uma hipnose. Foi pouco, mas o efeito foi fantástico. Ela me encantou por toda a noite, me fez me sentir um deus e ela minha deusa.

- Respira pai, deixa essa conversa pra lá...

- Foi só uma aventura. Eu nunca mais vi aquele pó. Nunca mais me deitei com uma mulher desse tipo. Um tempo depois, conheci sua mãe. Sempre tivemos uma vida correta...

- Eu sei.

- Mas eu nunca, nunca mesmo, esqueci aquela noite. Às vezes, eu sonho com ela. Mas, depois de tanto tempo, seu rosto é meio incerto, não tenho certeza de como era. Me lembro muito bem dos olhos, cor de mel...

- Pai, fique calmo, essa emoção pode te fazer mal.

- Posso te pedir uma coisa, filho? Um pedido de moribundo?

- Pode.

- Me arranja um pouco de cocaína?

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Casara-se apaixonado, como muita gente. A despedida de solteiro, por muita pressão dos amigos, foi num puteiro. Festa de arromba, diga-se de passagem. A turma é animada e se precaveram por dar merecimento ao homenageado: fecharam a casa para uso próprio. Não se fez de rogado e provou do negócio. Shirley. Ou Sheila, não se lembra. Uma ruiva bonita, daquelas belezas tímidas e joviais que só as ruivas jovens e tímidas têm. Foi tudo normal e divertido. Depois, caso esquecido, que a noiva era o amor e a atenção; Mas, no quinto ou sexto dia de lua de mel, não por desgosto, até o contrário, mas dando acordo de si, só conseguia pensar na Sheila. Ou Shirley.

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Tenso, tenso, todo tenso. A morena rebolando colada.

- O que foi, não ta gostando?

- Não. To. Ah, é que eu to meio sem jeito.

- Jeito dou eu. Qual é o problema?

- É... bom, é que eu nunca paguei por sexo antes.

- Não meu querido, você só acha que nunca pagou.

Pensou um minuto; a ficha caiu. Depois disso, se soltou e fez carnaval a noite toda.

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- Vai sim! Sem desculpas! Hoje você vai perder o cabaço!

E os amigos o arrastaram, quase a força, pra casa de Dorinha. Tudo moleque; uns orgulhosos de já ter bigodinho de cobrador, todos com a voz mudando de tom. E ele, coitado, o mais retraído.

Tentou desconversar. Disse que não podia, tinha dentista, tinha que ir na feira, tinha prova, tinha missa, tinha jogo, tinha que voltar, tinha que ir, o escambau, tinha medo.

Ninguém lhe deu a razão; não tinha acordo.

Dorinha abriu a porta cheirosa. Todo mundo entrou na sala, todos comportados. Ele travou, suava, não olhava nos olhos. Ela, sabendo de cor o bordado. Passou as mãos no seu cabelo e cochichou alguma coisa no ouvido. Aí ele se deixou levar pro quarto, só os dois.

Foram dez minutinhos. E tava feita a canção.

Ela, saiu do mesmo jeito que entrou. Um pouco mais descabelada, mas só.

Ele, saiu como um titã.

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Ela remexe como nunca antes ele tinha visto ela remexer. Rebola até com o pescoço, se contorce, arranca a roupa de cama, morde as costas de uma mão, mal sufoca o gemido, enquanto a outra continua disponível. Chega mais perto, se mostra toda. Fala sacanagens, grita sacanagens, só pensa sacanagens. Ele, maravilhado com aquilo, não resiste e goza. Goza como moleque, quase ri de alegria. Antes de fechar a aba, ele se despede e promete voltar amanhã. Limpa o chão e depois o histórico. E agradece por ter cartão de crédito e ela webcam.



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Creditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado originalmente no site Solteiras e Descoladas
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor

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