O Que Querem


Essa pataquada freudiana (se escreve froidiana aqui na terra em que nasci) de “afinal, o que querem as mulheres”, remixada em toda escola filosófica e artística, já encheu, Anda virando literatura psicológica de segunda. Nós sabemos o que vocês querem, ao menos em parte, o enguiço é que a lista é gigante. Ad infinitum e além mar.

Mas dêem trégua, vez em quando, são tempos difíceis para nós homens, o mundo de pernas pro ar, a gente tendo que engolir esse papo de metrossexualismo a la carte, colega de trabalho aparecendo com a barba desenhada, vai pra puta que pariu o dr. Hollyhood. Sem contar o stress da Copa, que já começou, vai todo mundo aqui da pátria pagar, pelos próximos vinte anos, pelas dívidas que andam fazendo por aí.

Sem mais delongas, comecemos com a lista, minguado top 10, é incompleta e sei que muda sempre, to nem aí, como tudo na vida – essa ingrata – faz-se o que pode. Vai lá irmão, coça o saco e lê num fôlego só:

1 – O simples e imediato, quase ordinário: mijem dentro da privada, pelo amor de deus, e parem de zombar da boa vontade, que são elas que se incomodam e vão limpar nosso chão de estrelas depois.

2 – Presentes. Não se esqueça. Mas presentes com história. Não é dinheiro que elas querem, é a possibilidade da surpresa. Mesmo que você seja, como todo mundo, liso, fudido e mal pago, há de se contornar com jinga. Pode ser um quadro pintado à mão, uma cartinha surpresa, um brinquedo que ela quis na infância e não teve. Ternura não se perde ao se endurecer, já gritou o tio Guevara.

3 – O mesmo se dá com a comida. Pare de apregoar aos quatro ventos, se achando macho, que não sabe nem ferver água e aprende aí alguma coisa da arte culinária, senão só vai afirmar que é um incapaz de sobreviver sozinho – até Moisés elaborou um pouco passando mel nos gafanhotos. E vai procurar mel no deserto pra ver que inferno é isso. Se já sabe cozinhar um pouco, vá adiante e transcenda o tradicional bife na chapa de todos os dias. Investir num molho agridoce faz bem pra todo mundo. Vai ver como ela se lambuza, sorridente, na parada.

4 – Pelo menos, eu disse PELO MENOS, todas as mulheres tem uma safada dentro de si desejando dar o ar das graças naquela noite quente de sábado. Brinque com isso. Sussurre inconseqüências no ouvido dela, sutis, e faça o favor de cumpri-las. Aprenda a hora certa de dar um tapa na bunda (nunca na hora em que ela está escovando os dentes, por exemplo, escovada na gengiva dói). Afaste-se um passo e peça “faz de novo?” quando ela se inclinar pra pagar alguma coisa na gaveta e fique só admirando. E por aí vai. Tudo isso, na dose certa, e vai preparando seu malandrinho que hoje tem.

5 – Massagem. Não é só elas, todo mundo quer. Aprenda um pouco. Ninguém é especialista em anatomia, não sei o que se liga no metatarso e nem onde fica essa bagaça. Mas vai tateando, com paciência, que acaba sentindo. Dar nome aos bois também pode ser divertido. Por exemplo, quando achar um nó nos músculos dela, diga “acabei de achar o seu chefe que te aporrinha no trampo” ou “isso aqui foi porque esqueci de ligar? Desculpa, vou desfazer isso”. Ela vai achar engraçado e te chamar de fofo na próxima reunião com as amigas.

6 – Mas, em matéria de fofura, somos uns crassos, uma comédia de erros. Não se intimide e continue a se alternar entre homem sensível e ogro lenhador, com os intervalos intermediários entre os graves e os agudos. Não é assim que se faz uma sinfonia? Você vai errar, muito, e nem vai saber porque, ela vai te pregar na cruz com um daqueles “não, nada não” que querem dizer “acorda sua anta”, ou algo que o valha. Dê de ombros e continue a ser essa metamorfose ambulante, sem se dar ao luxo do comodismo.

7 – Que é outra falha nossa, ao viés feminino. É que o corpo e a cabeça delas não pára, uma hora ta feliz, logo depois chora, ta sem fome mas quer chocolate, não me toca que eu vou menstruar (faz sentido?). Mas a gente se desliga umas duas, três vezes por dia, assim, sem cerimônias, só porque temos essa capacidade de desligar. Só não se torne um preguiçoso. Honre essa vida pulsante. Mire em Jack London, não em Macunaíma.

8 – Relacionamento, em qualquer nível, da pegação às bodas de ouro, é o antidopping do amor. Se seu amor anda por aí cheirando umas carreiras de indiferença, fumando uns cachimbos de egocentrismo ou esvaziando copos de ciúmes e acusações, não vai passar e cai em desclassificação por WO. Entra outro na disputa pela medalha, vai tu agora participar de corrida com barreiras.

9 – Diz a lenda que já existiu um homem, um único apenas, que conseguiu compreender, completa e plenamente, as mulheres. Todas as mulheres. Só que ele morreu de rir antes de conseguir passar o segredo adiante. Desista da decifração, do problema matemático. Comece a sentir, só sentir, e reagir à isso.

10 – E o erro do Poeta é reduzir sua Musa á própria inspiração. Nada mais cretino. Ela ta ali, com cólica, cheque especial ficando no vermelho, a idade vindo e o creme antirugas que não chega, a amiga chora de coração partido, mas ela ainda não teve tempo de ir consolar. E você ali, pintando quadros dela nua e saltitante em um jardim de primavera. Ela só quer um abraço e você escrevendo um soneto. Ela sendo mulher, demasiado mulher, e você a enxergando pela luneta do seu umbigo. Se liga, mano. Romantismo é o contrário de não se importar.

Imprima esse decálogo de erros e incertezas e dê um lida nele de vez em quando. Trate como panfletinho de auto-ajuda, tanto faz, não deixa de ser, depois do relativismo, tudo é e não é, né não? E vai aprimorando aí por conta própria. Mas não ignore o que é tradição e que todo mundo sabe, nem que somos eternos noviços e cabaços, a vinte mil léguas de habitar o universo mulheril.



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Creditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado originalmente no site Solteiras e Descoladas
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor

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