Pense nas pequenas coisas. No primeiro cigarro de Bukowski em uma manhã ressaquenta. O primeiro milhão de Paulo Coelho. O primeiro corte de Godard na ilha de edição.
Pode até ser que o protetor solar seja importante, mas ainda não dei a ninguém o luxo de decidir como vou morrer.
You say jump, I say ha-ha.
Você não colocará suas mãos em minha garganta, muito menos seu pé no meu saco.
Li, assisti e ouvi gente demais. Floyd. Kubrick. Gatlif. Freud. Eco. Seixas.
E o que isso me trouxe me termos de sabedoria universal?
Nada.
Ou menos, se considerar que eu podia estar matando e roubando.
Artaud vira moda. Harry Potter também. E você, sua bela expressão cheia de compreensão, indo pelos ares.
A verdade, meu caro, a verdade, esse peixe escorregadio, não é acessível pela discussão nem será o prêmio do argumentador mais forte. O grande lance aqui é quando alguém se suicida e você não. O resto é truque, se é que se pode chamar assim, mas provavelmente é isso mesmo.
Você discorda, não estando muito certo dos fatos.
Tape o sol com a peneira e vá ao psiquiatra. Ele será vago e simpático. Sob sua orientação benévola, ele o levará a ser alguém como manda o figurino. Talvez você sinta um progresso sem precedentes. Mas essa aura que ele lhe colocou vai desaparecer logo que deixar de pagá-lo.
A terapia de choque só foi abolida das clínicas. Na vida, ela continua. A tendência ao crime é difícil de superar. Somos todos moleques de rua. O cerne da perversidade é desejado quando não agüentamos mais os “Como Vai?”, “O que conta de novo?”, “E o tempo, hein?”
Pense nas pequenas coisas. O estranho volume do silêncio. Pratique o zen-budismo. Mas num nível normal e comedido, não como a obsessão psicótica da maioria das coisas.
As vanguardas se atrasaram. O que ainda tinha potencial ficou estagnado, congelado em críticas e alucinações sobre si mesmo. O surrealismo caiu por terra numa miríade pós photoshop. O dadaísmo sempre foi perigoso porque a polícia – e outras autoridades – nunca souberam muito bem do que se trata. Antropofagismo perdeu o senso gourmet e só come carne de segunda.
Jogo: encontre os sete erros na obra “o existencialismo é um humanismo”. Resposta: estão todos no sufixo “ismo”.
Os artistas e críticos de hoje são diplomados nas Escolas de Comércio.
Diante da arte espetacular e megalomaníaca atual, como deve o público se portar? Qual a etiqueta para tratar com James Cameron ou com os produtores do Rock in Rio?
Todo mundo isso êê, todo mundo aquilo ôla.
Onde foi mesmo que enterraram o saxofone de Charlie Parker?
Mantenho a crença de que, em algum lugar no Mississipi, ainda existe uma encruzilhada esperando pelo próximo Robert Johnson.
Uma boa crítica deveria ser um cuspe na cara. Tente ser sutil ou espertinho e será tomado pelo imbecil que tenta satiricamente imitar. Atire primeiro e faça exegeses depois.
Dance, até provocar uma tempestade.
Pense nas pequenas coisas. Idéias tolas. Esse é meu talento. Pensar besteira. Enviar remessas de sopa de letrinhas para as áreas de maior analfabetismo. Água em pó – dissolva o conteúdo de um envelope em um copo de água e beba. Bandas pop em versões gospel – Só Pra Contrariar o Capeta, Sorriso Maroto de Jesus, Skank de Jah, Legião Urbana de Deus. As pequenas coisas.
Talvez, num futuro, quem sabe, eu decida renunciar à carne e me tornar um santo-lunático profissional, algo como um profeta, mas com intenção de lucro. Vou cultuar a mentira como verdade e o delírio como sensatez, para a contemplação e perdição das futuras gerações.
As feministas de hoje aparecem com sutiãs com enchimento e bojos bem delineados para melhor firmeza e volume. Elas dizem que é pro fogo arder melhor e mais rápido, mas eu duvido.
Se o homem fosse o animal mais esperto, não haveria o que discutir. Mas realeza não tem a ver com esperteza, mas sim em discutir obsessiva e teoricamente sobre dignidade. E a coroa do reino animal pesa sobre nossas cabeças.
Isso de querer ter um estilo próprio, da prosa ao guarda roupa, é por demais mesquinho. Você queria mudar o rumo das coisas e tornar belo o que era feio. Mas se o mundo se tornasse aquilo como você quer, ele seria uma bosta.
Meus ideais são um pouco mais sólidos do que o que se vê ultimamente. Alguns, gravados em mármore. Quem tem cicatriz, tem também a febre da faca amolada.
Já faz tempo que rejeitei ao heroísmo. Respiro profundamente, eternamente grato.
Acredito no fracasso. Que é quando a gente cai, sozinho e assustado, num mar de confusão. Você segura o fôlego, vê, de relance, uma luz acima e se esforça pra chegar até ela. Só pra ser engolido por um tubarão. Já me aconteceu algumas vezes e o futuro nunca é de graça.
Ultimamente, sou o melhor amigo do tubarão.
Humano, demasiado humano, porra!
Pense nas pequenas coisas. Vá para a porta de um hospício e contemple. Contemple. Depois de um tempo, vai perceber que o que separa lá dentro daqui de fora é só a dosagem dos remédios.
Acredito no medo, que é natural. Mas, covardia, esse medo do medo, é escolha. Das piores. Raramente, você tem algo a perder de verdade e que já não está perdendo. O risco é o verdadeiro caminho do sensato.
A outra opção é se tornar uma encarnação de 50 anos do boneco Ken.
Infelizmente, é direito inalienável de todos poderem transpirar testosterona e pânico ao mesmo tempo.
A liberdade, a vida em essência, está entre uma respiração e outra. Se define muita coisa nos intervalos. Entre os passos se define uma rota. Num instante de silencio você define se vai tentar levar uma mulher pra cama ou não. Define se vai lidar com um desafio ou não. Se há continuidade ou não. Esses espaços são a própria liberdade.
Esqueça todas essas ditas receitas de sucesso. Isso é fast food. Apenas garanta sua capacidade de aproveitar do prato quente e da bebida gelada durante sua passagem por esse vale de lágrimas.
Pense nas pequenas coisas. Ligue o chuveiro e fique três horas por lá. Não pense em nada e sinta tudo. Converse com um estranho. Perca o pudor diante de quem ama. Não se poupe e, sem remorsos, se faça em pedaços.
O mundo há como sempre houve: insano, insensível, inconseqüente, incongruente, intenso. Essas jovens donzelas e marmanjinhos hipsters – cabaços em tudo -, tão atentos e espertos quanto ao que é in e out, ainda não sacaram.
Mas a realidade nunca é tediosa. Basta um olhar atento e selvagem.
Você não me engana, não perdeu sua capacidade de se admirar.
Por outro lado, o que eu preciso mesmo é parar de escrever bêbado.
Pode até ser que o protetor solar seja importante, mas ainda não dei a ninguém o luxo de decidir como vou morrer.
You say jump, I say ha-ha.
Você não colocará suas mãos em minha garganta, muito menos seu pé no meu saco.
Li, assisti e ouvi gente demais. Floyd. Kubrick. Gatlif. Freud. Eco. Seixas.
E o que isso me trouxe me termos de sabedoria universal?
Nada.
Ou menos, se considerar que eu podia estar matando e roubando.
Artaud vira moda. Harry Potter também. E você, sua bela expressão cheia de compreensão, indo pelos ares.
A verdade, meu caro, a verdade, esse peixe escorregadio, não é acessível pela discussão nem será o prêmio do argumentador mais forte. O grande lance aqui é quando alguém se suicida e você não. O resto é truque, se é que se pode chamar assim, mas provavelmente é isso mesmo.
Você discorda, não estando muito certo dos fatos.
Tape o sol com a peneira e vá ao psiquiatra. Ele será vago e simpático. Sob sua orientação benévola, ele o levará a ser alguém como manda o figurino. Talvez você sinta um progresso sem precedentes. Mas essa aura que ele lhe colocou vai desaparecer logo que deixar de pagá-lo.
A terapia de choque só foi abolida das clínicas. Na vida, ela continua. A tendência ao crime é difícil de superar. Somos todos moleques de rua. O cerne da perversidade é desejado quando não agüentamos mais os “Como Vai?”, “O que conta de novo?”, “E o tempo, hein?”
Pense nas pequenas coisas. O estranho volume do silêncio. Pratique o zen-budismo. Mas num nível normal e comedido, não como a obsessão psicótica da maioria das coisas.
As vanguardas se atrasaram. O que ainda tinha potencial ficou estagnado, congelado em críticas e alucinações sobre si mesmo. O surrealismo caiu por terra numa miríade pós photoshop. O dadaísmo sempre foi perigoso porque a polícia – e outras autoridades – nunca souberam muito bem do que se trata. Antropofagismo perdeu o senso gourmet e só come carne de segunda.
Jogo: encontre os sete erros na obra “o existencialismo é um humanismo”. Resposta: estão todos no sufixo “ismo”.
Os artistas e críticos de hoje são diplomados nas Escolas de Comércio.
Diante da arte espetacular e megalomaníaca atual, como deve o público se portar? Qual a etiqueta para tratar com James Cameron ou com os produtores do Rock in Rio?
Todo mundo isso êê, todo mundo aquilo ôla.
Onde foi mesmo que enterraram o saxofone de Charlie Parker?
Mantenho a crença de que, em algum lugar no Mississipi, ainda existe uma encruzilhada esperando pelo próximo Robert Johnson.
Uma boa crítica deveria ser um cuspe na cara. Tente ser sutil ou espertinho e será tomado pelo imbecil que tenta satiricamente imitar. Atire primeiro e faça exegeses depois.
Dance, até provocar uma tempestade.
Pense nas pequenas coisas. Idéias tolas. Esse é meu talento. Pensar besteira. Enviar remessas de sopa de letrinhas para as áreas de maior analfabetismo. Água em pó – dissolva o conteúdo de um envelope em um copo de água e beba. Bandas pop em versões gospel – Só Pra Contrariar o Capeta, Sorriso Maroto de Jesus, Skank de Jah, Legião Urbana de Deus. As pequenas coisas.
Talvez, num futuro, quem sabe, eu decida renunciar à carne e me tornar um santo-lunático profissional, algo como um profeta, mas com intenção de lucro. Vou cultuar a mentira como verdade e o delírio como sensatez, para a contemplação e perdição das futuras gerações.
As feministas de hoje aparecem com sutiãs com enchimento e bojos bem delineados para melhor firmeza e volume. Elas dizem que é pro fogo arder melhor e mais rápido, mas eu duvido.
Se o homem fosse o animal mais esperto, não haveria o que discutir. Mas realeza não tem a ver com esperteza, mas sim em discutir obsessiva e teoricamente sobre dignidade. E a coroa do reino animal pesa sobre nossas cabeças.
Isso de querer ter um estilo próprio, da prosa ao guarda roupa, é por demais mesquinho. Você queria mudar o rumo das coisas e tornar belo o que era feio. Mas se o mundo se tornasse aquilo como você quer, ele seria uma bosta.
Meus ideais são um pouco mais sólidos do que o que se vê ultimamente. Alguns, gravados em mármore. Quem tem cicatriz, tem também a febre da faca amolada.
Já faz tempo que rejeitei ao heroísmo. Respiro profundamente, eternamente grato.
Acredito no fracasso. Que é quando a gente cai, sozinho e assustado, num mar de confusão. Você segura o fôlego, vê, de relance, uma luz acima e se esforça pra chegar até ela. Só pra ser engolido por um tubarão. Já me aconteceu algumas vezes e o futuro nunca é de graça.
Ultimamente, sou o melhor amigo do tubarão.
Humano, demasiado humano, porra!
Pense nas pequenas coisas. Vá para a porta de um hospício e contemple. Contemple. Depois de um tempo, vai perceber que o que separa lá dentro daqui de fora é só a dosagem dos remédios.
Acredito no medo, que é natural. Mas, covardia, esse medo do medo, é escolha. Das piores. Raramente, você tem algo a perder de verdade e que já não está perdendo. O risco é o verdadeiro caminho do sensato.
A outra opção é se tornar uma encarnação de 50 anos do boneco Ken.
Infelizmente, é direito inalienável de todos poderem transpirar testosterona e pânico ao mesmo tempo.
A liberdade, a vida em essência, está entre uma respiração e outra. Se define muita coisa nos intervalos. Entre os passos se define uma rota. Num instante de silencio você define se vai tentar levar uma mulher pra cama ou não. Define se vai lidar com um desafio ou não. Se há continuidade ou não. Esses espaços são a própria liberdade.
Esqueça todas essas ditas receitas de sucesso. Isso é fast food. Apenas garanta sua capacidade de aproveitar do prato quente e da bebida gelada durante sua passagem por esse vale de lágrimas.
Pense nas pequenas coisas. Ligue o chuveiro e fique três horas por lá. Não pense em nada e sinta tudo. Converse com um estranho. Perca o pudor diante de quem ama. Não se poupe e, sem remorsos, se faça em pedaços.
O mundo há como sempre houve: insano, insensível, inconseqüente, incongruente, intenso. Essas jovens donzelas e marmanjinhos hipsters – cabaços em tudo -, tão atentos e espertos quanto ao que é in e out, ainda não sacaram.
Mas a realidade nunca é tediosa. Basta um olhar atento e selvagem.
Você não me engana, não perdeu sua capacidade de se admirar.
Por outro lado, o que eu preciso mesmo é parar de escrever bêbado.
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Pequena nota sobre a transmigração da minha alma: aviso a todos os amigos e inimigos que fiz na vida – esta vida, que começou em 1980, não aquela em que fui papa e queimei na fogueira pais de família para roubar suas mulheres – que ainda não será desta vez, mas prometo que na próxima encarnação virei como funcionário público pra que vocês tentem novamente dobrar meu espírito.
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Creditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor
1 comentários:
Uau! Que texto incrível. Na verdade li alguns textos daqui e gostei de tudo que li.
Abraços!
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