Porque começou assim, meio por impulso. Interesse que já existia, mas assim.
E, de um beijo, a necessidade de agarrar, a dificuldade de dar um tchau, e dois dias trancados no quarto. Vendo um ao outro diferente. Mais real.
E, claro, de novo. E de novo. Outra mulher ficou pra trás, pra te dar espaço. Mais uma e uma terceira também, mas dessas você nem soube. Amor voluntário tem dessas. Mostrei um pouco mais. Um apartamento pequeno, o seu ou o meu, mas o espaço era suficiente. Trepar em todos os cômodos, E de novo, e de novo.
Escutei enquanto falava e quando não falava. Te fiz rir e me apaixonava ainda mais quando conseguia me deixar sem resposta. Eu não perdia o pique. Não respeitava quando você gozava e me dizia “preciso de umas duas horas”. Quinze minutos depois, você gozava de novo.
Te fiz um pouquinho mais mulher, mas isso é mérito seu. Escutei suas músicas, li seus livros, te larguei sozinha, te fiz companhia. Você escutou meus sonhos, meu lado vago, meu lado preciso. Te dei um xadrez, você me deu um relógio. Mas ambos nos demos uma coisa que ainda ta crescendo.
Te beijei diferente. O tempo passou. Te beijei diferente de novo. E de novo. Só porque não te via igual. Às vezes eu soube o que você queria antes de você saber que queria. Às vezes parecia fácil. Simples. Livre.
Fomos ao cinema, Compramos livros, Pegamos carona. Rimos. Choramos. Você mordeu meu ombro, eu mordi sua bunda. De vez em quando, você chorava, sem razão. Às vezes com razão. Às vezes sem razão.
Te acompanhei até a aula. Escutei suas esperanças. Te convidei pras minhas. Seus desejos. Suas músicas. Você escutou as minhas. Dormi no meio de filmes. Dormi te enlaçando. Você dormiu sobre meu peito. Te acompanhei na sua solidão. De vez em quando, você gemia, sem razão. Às vezes, com razão.
O tempo passou, a distância veio. Não faltou pique, mas faltou energia. Você chorou, com razão. E, claro, de novo. E de novo.
Fui ao cinema. Ouvi minhas músicas. Conversamos. Rimos. A distância ainda existia. No pouco tempo juntos, eu jogava pro alto. Você se alinhava. São coisas com tempos diferentes. Meu pudor sempre foi menor. Me sacrifiquei por dentro. Era uma forma de cuidado. Pra acabar com a distância. Você não entendeu assim. Me fiz menos homem pra ser mais homem.
Mas menos é sempre menos.
Você recuou, eu avancei. São coisas com tempos diferentes. Eu errei, você também. O meu foi querer tudo, o seu não saber o que querer.
O tempo veio. Outras mulheres vieram. Mas você ainda fazia meu olho brilhar. Fogo voltou a correr nas minhas veias. Tudo aquilo, e eu te disse, todo o tesão, toda a frustração, toda a alegria, toda a loucura, toda a gana, eu queria mesmo que fossem seus. Acabaram sendo de outras. E eu te disse, e você mal ouviu.
Um pouco de sombra pras feridas sararem. Você me pediu isso. E eu, louco. E eu, com gana. E eu, com tesão. São coisas com tempos diferentes.
Me afastei, pra dar espaço. Você chorou, sem razão. Ainda não entendeu. Ainda não saiu de dentro da sua cabeça. Não se viu de fora. Não me viu de fora.
Mas, de tudo, o que mais me doía era te ver doente. Não de uma doença. Não de um diagnóstico. Era sem saúde. Sem energia. Queria te dar um pouco disso. Sem cobrança. Sem expectativa. Sem retorno. Pra mim, bastava que você acordasse diferente. Se melhor ou pior, era com você. Pra mim, bastava que você acordasse diferente. Quebrar o ciclo. Esse foi seu erro. O último. Se fez menos mulher, querendo se mostrar mais.
E vieram outras. E, claro, de novo. E de novo. Você já não fazia meus olhos brilharem. Não me fez mais salivar. Mas ainda te percebo. Clara. Menina. Sofrida. Alegre. Você acreditando ou não. De vez em quando, você sentiu, com razão. Às vezes, sem razão.
Mas menos é sempre menos.
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Creditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor
2 comentários:
Amigo Thiago, muito bom seu conto, adorei, mesmo as repetições fazem todo o sentido, você sabe encaixa-las no lugar certo, o que é raro ver-se em um texto, poema ou poesia, parabéns!
Um enorme abraço meu amigo!!!!
Certeza é coisa que, quando cai por terra, é melhor nem procurar de volta.
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