É que esse velho malandrão canta coisas que, de início não são tão bonitas assim. Soam bem, não se nega. Mas o que o cara escreve precisa sempre de tempo, de particularidades. Precisa envelhecer em barris de lágrimas nossas. Precisa das dores que as justifiquem aqui, do nosso lado do balcão da vida.
Mas, como disse, soa bem, já de cara. Há sempre um verso matador. Pega na inicial. Fantástico, já ta valendo.
Esse vagabundo cronista dos desassossegos aqui, tem aprendido muito com isso.
Do mal estar da civilização ao histórico particular, do atacado ao varejo, seu Francisco sabe dar o tom do que é a gota d’água. O cale-se de cada um, de cada nós. E a gente, nobres rudes, madruga adentro em viagens empolgadas e interpretativas.
Mas antes, é preciso estar à flor da pele.
Do mal, os melhores. Não, amigo, não fuja. Rebenta-se a veia do desengano e passamos dias inteiros em especulações metafísicas sem rumo. Ou motivos descabíveis, também sem rota. E o juízo a agonizar.
Então, de alguma forma, naquela velha canção já ouvida mil vezes, Chico explica.
Até no plágio, na cópia, no ato saltimbanco das idéias – e ele faz isso muito, vou falar na seqüência – ele colore um pouco mais. A ópera do Malandro, copiada, na bucha, da Ópera dos Três Vinténs do tio Brecht, tem o sol desses tristes trópicos ao contrário daquele céu de chumbo das obras alemãs.
Jamelão e Carlos Cachaça, como poderiam, jamais poderiam, ficar bravos ou chateados com os inocentes plágios que Chico fez. Menos que plágios, homenagens, que o samba é também pegar uns dos outros as histórias da boemia, que nunca são vividas só. É sede de anteontem.
Também das putas, da memória das bravas donzelas, ele rouba um pouco do feitiço. Porque, tenho cá comigo, em teoria não comprovada, que ele ficava lá, sentado como quem não quer nada, no canto do puteiro, a escutar tudo com ouvido apurado, e dá-lhe caderneta pegando fogo com anotações. Aposto um rim (dois jamais), que vem daí um bom par de dúzias de obras.
Outra, que é quase a mesma, era sentar ao lado de Vinícius de Moraes e escutar o poeta (poetinha o caralho) parlar sobre alegrias e desmazelos. Que Vinícius tinha esse dom de catalisar os talentos ao redor e colocar eles pra trabalhar, é uma coisa impressionante pensar isso, parcerias diversas estão aí pra provar. Exu ri na contraluz.
E vai assim, com aquele andar meio bobo que se vê nos vídeos, ou entre um jogo do Fluminense e outro, ou no apêzinho em Paris
Como parênteses, fica aqui outra teoria: o que diabo tem a Marieta Severo? Minha imaginação dá uns duplos, triplos carpados, pensando nisso. Que ela não é bonitona, assim, de primeira vista. É talentosa, mas na medida dos mortais talentosos. Tem algum mistério de louco ali, que eu fico tentando descobrir. Um amigo tem a teoria de que ela tem duas piriquitas, só pode ser, como é que se segura um pilantra por tanto tempo?, diz ele, absolutista na parada. Eu arrisco também que pode ser uma questão de companheirismo quase obsessivo, obsceno mesmo, de complacência em todos os desvarios, dele e dela. Por outro lado, ela sempre me pareceu dessas mulheres fortes, mulheres ao extremo, de colocar o Chico de joelhos, olha aqui que tu não sabe de nada, passa o ponto pro aluno bagunceiro e o transforma no mais humilde dos aprendizes. Mulher que só não é nordestina por acaso da geografia, Severo é seu sobrenome, o nome do meio tenho até medo de perguntar. Sei lá, to chutando nas traves ainda. Mas coisa tem, coisa tem.
Não sei até onde vai isso tudo. Mas sei que ainda me aguarda nas próximas desilusões aquele disco, aquela música, sabe qual é?, aquela do coração partido, aquela da coragem, aquela do fim, aquela do recomeço. Me aguarda a estação derradeira.
Mas, como disse, soa bem, já de cara. Há sempre um verso matador. Pega na inicial. Fantástico, já ta valendo.
Esse vagabundo cronista dos desassossegos aqui, tem aprendido muito com isso.
Do mal estar da civilização ao histórico particular, do atacado ao varejo, seu Francisco sabe dar o tom do que é a gota d’água. O cale-se de cada um, de cada nós. E a gente, nobres rudes, madruga adentro em viagens empolgadas e interpretativas.
Mas antes, é preciso estar à flor da pele.
Do mal, os melhores. Não, amigo, não fuja. Rebenta-se a veia do desengano e passamos dias inteiros em especulações metafísicas sem rumo. Ou motivos descabíveis, também sem rota. E o juízo a agonizar.
Então, de alguma forma, naquela velha canção já ouvida mil vezes, Chico explica.
Até no plágio, na cópia, no ato saltimbanco das idéias – e ele faz isso muito, vou falar na seqüência – ele colore um pouco mais. A ópera do Malandro, copiada, na bucha, da Ópera dos Três Vinténs do tio Brecht, tem o sol desses tristes trópicos ao contrário daquele céu de chumbo das obras alemãs.
Jamelão e Carlos Cachaça, como poderiam, jamais poderiam, ficar bravos ou chateados com os inocentes plágios que Chico fez. Menos que plágios, homenagens, que o samba é também pegar uns dos outros as histórias da boemia, que nunca são vividas só. É sede de anteontem.
Também das putas, da memória das bravas donzelas, ele rouba um pouco do feitiço. Porque, tenho cá comigo, em teoria não comprovada, que ele ficava lá, sentado como quem não quer nada, no canto do puteiro, a escutar tudo com ouvido apurado, e dá-lhe caderneta pegando fogo com anotações. Aposto um rim (dois jamais), que vem daí um bom par de dúzias de obras.
Outra, que é quase a mesma, era sentar ao lado de Vinícius de Moraes e escutar o poeta (poetinha o caralho) parlar sobre alegrias e desmazelos. Que Vinícius tinha esse dom de catalisar os talentos ao redor e colocar eles pra trabalhar, é uma coisa impressionante pensar isso, parcerias diversas estão aí pra provar. Exu ri na contraluz.
E vai assim, com aquele andar meio bobo que se vê nos vídeos, ou entre um jogo do Fluminense e outro, ou no apêzinho em Paris
Como parênteses, fica aqui outra teoria: o que diabo tem a Marieta Severo? Minha imaginação dá uns duplos, triplos carpados, pensando nisso. Que ela não é bonitona, assim, de primeira vista. É talentosa, mas na medida dos mortais talentosos. Tem algum mistério de louco ali, que eu fico tentando descobrir. Um amigo tem a teoria de que ela tem duas piriquitas, só pode ser, como é que se segura um pilantra por tanto tempo?, diz ele, absolutista na parada. Eu arrisco também que pode ser uma questão de companheirismo quase obsessivo, obsceno mesmo, de complacência em todos os desvarios, dele e dela. Por outro lado, ela sempre me pareceu dessas mulheres fortes, mulheres ao extremo, de colocar o Chico de joelhos, olha aqui que tu não sabe de nada, passa o ponto pro aluno bagunceiro e o transforma no mais humilde dos aprendizes. Mulher que só não é nordestina por acaso da geografia, Severo é seu sobrenome, o nome do meio tenho até medo de perguntar. Sei lá, to chutando nas traves ainda. Mas coisa tem, coisa tem.
Não sei até onde vai isso tudo. Mas sei que ainda me aguarda nas próximas desilusões aquele disco, aquela música, sabe qual é?, aquela do coração partido, aquela da coragem, aquela do fim, aquela do recomeço. Me aguarda a estação derradeira.
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Creditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado originalmente no site Solteiras e Descoladas
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor
5 comentários:
Marieta Severo, era amiga íntima de Leila Diniz. Você conheceu a Leila...ela era a musa do Pasquim......Chico estava sempre deixando alguma novidade lá....portanto, Marieta como Leila, foi uma mulher dessas que emancipou as brasileiras!!! Isso é muito mais do que ter duas periquitas.....ahahahhaha...xD
Hahahaha, boa!
Jogo do flamengo? Só se for FLA x FLU. Chico é tricolor desde sempre...
O post ficou muito interessante...
Olá,
Bem bacana a postagem!
Abraços,
Zuza Zapata
www.zuzazapata.com.br
Através de sua obra, o Chico conseguiu escrever a história recente do país (sem retoques) e definiu uma identidade nacional. Isso é para bem poucos.
Antonio Guedes
Dica: http://www.youtube.com/watch?v=8O3jtqhJOgU
Dica 2: http://www.youtube.com/watch?v=toUEimdivKg
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