Eu Sou Um Covarde


No fundo é isso, eu sou um covarde.

Olho ao redor e todo mundo é bem mais corajoso do que eu.

Claro, eu nasci corajoso. Fui corajoso muito tempo. O que me fez covarde foi a vida.

É preciso muita coragem pra entregar toda a sua felicidade ao mercado de trabalho, a uma empresa, a uma carreira. Não sou corajoso o suficiente para entregar cem por cento da minha renda a um único emprego em tempo integral e não tenho a coragem de confiar em uma empresa que vai me demitir assim que for a decisão contábil mais acertada.

Sou covarde porque tenho abandonado cada vez mais minhas necessidades materiais. Me desfaço de coisas que sempre carreguei, por medo de continuar carregando. Livros, filmes, músicas, vão embora, porque tenho medo de um dia pesar demais. Móveis, roupas, opiniões, qualquer âncora eu evito. Porque tenho esse medo de afundar na tempestade. Meu medo me levou a covardia de ser mais generoso com o pouco que tenho, ao invés da coragem de guardar tudo pra empreender.

Não tenho a coragem de projetar meu valor de homem num carrão, num celular ou numa tv fantástica. Piso na grama molhada porque tenho medo.

E não tenho sequer a coragem de viver de acordo com as efêmeras e conflitantes opiniões e expectativas dos outros.

Tenho medo. Respirar e ter sangue correndo nas veias é pouco. Cada passo é um avanço de responsabilidade minha, de mais ninguém. Os arroubos ou culpas também.

Minha covardia me impede de me conter. Coloco energia sexual em tudo. Trepo com meu trabalho, família, amigos, viagens. Não o coito, mas a mesma disposição, o mesmo feeling, o mesmo instinto. O mesmo prazer.

Mas eu também sou um covarde porque meu amor não transcende. É amor de bicho. Carinho com a ponta do nariz, cheiro, mordida, unhas cravadas na pele, tapa, gemido no ouvido, língua percorrendo o corpo. É amor de pele. De pêlo. De abraço, calor e aconchego.

E não tenho a coragem de depositar toda minha subjetividade e afeto em uma única e exclusiva parceira pra vida toda. Meu medo é que a vida toda seja muito longa. Ou o único muito pouco.

Tenho medo de ser guardião da moralidade e do correto. É muito pra mim, é muito difícil. Então eu aprecio o medíocre, o esplendoroso, o sombrio, o pitoresco, o belo, o misterioso, o hediondo. Tenho medo de perder meu tempo com justificativas demais.

Sou um fracasso porque lambo minhas próprias feridas ao invés de esperar pelo sopro cortês de alguém.

No fundo é isso, eu sou um covarde. Corajosos são vocês.




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Creditos:
Texto e fotografia: Thiago Carvalho (todos os direitos reservados)
Publicado no blog O Inimigo do Bom é o Melhor

comment 3 comentários:

Krisnatágoras on 09:09 disse...

Emblemática se torna a imagem que ilustra esse texto.

Nesse jogo de xadrez que é a vida, saber mover bem as peças é vital.

O jogo do mestre é aquele que não nos transforma em "humanóides de sucesso", daqueles com carro novo e jaqueta importada. O jogo do mestre é aquele que vai para além das relações superficiais de trabalho e amor enfadonho.

Fazer o jogo certo é assumir a convardia para encarar o jogo de cartas marcadas e ter coragem de abrir o peito e ir para além dos scripts / jogos prontos.

Que nessa breve experiência que aqui vivemos, consigamos buscar a verdade pulsante da vida, daquelas que só encontramos numa viagem retardada na mesa de um boteco.

Sorte para nós!

Carla disse...

Que sejamos todos covardes como você, seriamos todos mais felizes, sua covardia pra mim é desapego, e se desapego é covardia, quero ser o ser mais covarde de todos!

mengão2010 on 17:15 disse...

Todos nos temos medo ate da morte infelizmente comofalou no comentario em cima se vcnão souber mover as peças do xadrez vc acaba perdendo o jogo, é assim a nossa vida temos muito que aprender com isso, alias parabens pelo blog sucesso pra vc Thiago ha me visite mais vezes espero por seus comentarios acessa aí

http://juniorcis.blogspot.com
http://junior-juniorcis.blogspot.com

grato

junior

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